domingo, 11 de abril de 2010

Descobri porque não escrevo mais. Não escrevo mais porque estou feliz. Simples assim. Não há necessidade de dramas intermináveis ou lamentações infundadas. Estou feliz.

sexta-feira, 2 de abril de 2010


"...TODO DIA ACONTECE..."

A fala da travesti soa conformada, fatalista, sem esperança de protagonismo, de mudança. Todo dia acontece violência contra elas.

"A cada dois dias um homossexual é assassinado", dizem as estatísticas levantadas pelo Grupo Gay da Bahia, a partir de notícias de jornal e internet, recolhidas no Brasil.

Fossem fazer contagem dos crimes cometidos na Baixada Fluminense, especificamente contra travestis, decerto a estatística que apareceria seria esta: "- Todo dia acontece."

Penso isso enquanto vou assistindo aos documentários BASTA UM DIA e SEXUALIDADE E CRIMES DE ÓDIO, de Vagner de Almeida. Eles tratam da absurda violência contra o diferente; do ódio à diferença. E, no caso específico, a diferença se expressa na pessoa das travestis.

O segundo, SEXUALIDADE E CRIMES DE ÓDIO, é um réquiem pela morte de travestis que foram entrevistadas por Vagner no BASTA UM DIA e que logo depois foram assassinadas, como de costume, pelo simples fato delas existirem - uma delas, grotesca ironia, no mesmo dia e horário em que ocorria o lançamento do filme no Centro Cultural Banco do Brasil. O Diretor vai nos revelando as dimensões absurdas desses crimes, a sua absurda constância, a sua infame presença por todo o país, o descaso da polícia em sua apuração, o quanto a questão da classe e posição social são determinantes nesse consórcio de desdém formado entre o Estado e a sociedade.

O cenário mais retratado é a Rodovia Presidente Dutra, altura de Nova Iguaçu. E eu me lembro certa vez, de carro, a trabalho, passando por certo trecho dessa rodovia, o motorista aponta um imenso Shoping recém inaugurado na pista sentido São Paulo. Informa que anteriormente ali era um campo de futebol e que era comum às segundas-feiras, naquele terreno, amanhecerem corpos de travestis assassinados. Uns eram mortos ali, outros "desovados". A cena era corriqueira e se mantinha ao longo dos anos. O final de semana mais "fraterno" estampava um corpo de travesti. Nos mais "movimentados", eram três, quatro - espalhados pelo terreno descampado e até pendurados na baliza do gol. Ninguém se incomodava: "não era com eles"; não era gente "deles".

Enquanto ouvia esta narrativa do motorista, ficava a me perguntar quantos desses assassinatos teriam sido contabilizados pelo GGB, entidade que, embora com as suas deficiências, é pioneira tanto na mensuração dessas ocorrências, quanto em dar a devida importância para o assunto, remontando mesmo à década de oitenta do século passado.

Retorno ao filme. Um profundo desconforto me assola ao constatar, na maioria das entrevistadas, um fatalismo inamovível, uma "resignação cristã".

A violência é algo tão diário, tão presente, que elas passam a lidar com esse aspecto como algo "inerente" à vida e ao viver, como o sol ou a chuva - coisa sobre a qual não se tem ingerência, capacidade de ação transformadora, possibilidade interventiva.

Com que naturalidade elas falam da presença cotidiada da humilhação, do medo, das ameaças, da violência física, sexual, da morte sempre tão próxima.

Das corriqueiras experiências de práticas sexuais forçadas, muitas vezes à tapas, com o cano do revólver no rosto ou na boca, elas apenas reclamam de eles não haverem efetuado o pagamento pelo serviço auferido. É como se tivessem incorporado tais práticas como parte integrante de sua atividade profissional: sexo forçado, tudo bem, desde que pague.

Em outros momentos, são incapazes de identificar a violência presente em seus viver diários: De tão inerente, a violência chega a deixar de ser percebida, destaca o Diretor Vagner de Almeida no VIOLÊNCIA E CRIMES DE ÓDIO.


Um dos agentes sociais voluntários entrevistados comenta, impactado, que se dera conta de que elas, as travestis prostitutas, não fazem planos para o futuro; não possuem ou melhor, apagam, o registro do virá, do amanhã: as compras de alimento são feitas dia a dia e tudo o que elas querem é a possibilidade de estar vivas no dia seguinte.

Os aspectos mais humilhantes dessa nossa humana (digo humana porque frequente, não como atenuante) dificuldade diante da diferença são aqueles retratados na fala da empregada da funerária.

Ela nos relata o grau de apagamento de valores como empatia, solidariedade, fraternidade, verificados em profissionais da polícia e da defesa civil (bombeiros).

Eles se negam a tratar as vítimas e os cadáveres com a dignidade devida, exclusivamente por serem "viados", "bichinhas". Alguns corpos, de tão massacrados, precisam ser recolhidos com pás. Mas nem por isso - ou justamente por isso - os profissionais envolvidos na tarefa se recordam da humanidade a que aquele corpo, os seus restos, pertencem. Também não são capazes de se lembrar que, como eles, servidores públicos, as travestis de pista também tem quem lhes estime, se preocupe e pranteie a sua morte.


A desqualificação desferida às travestis em vida as segue além-morte - seja pelos bombeiros, seja pelo pessoal do Instituto Médico Legal. A relação desses servidores com os corpos é de criminoso aviltamento. Como se fora um amontoado de lixo pútrido, assim é procedido o recolhimento do cadáver vitimado pela bárbara e diária homofobia.

Impossível terminar de assistir a esses documentários sem pensar que, de certa maneira, essa mesma alienação nos acomete.

Também nós nos deixamos ficar indiferentes, aceitando como da ordem do imutável a contumácia dessas humilhações, terror e assassinatos macabros.


Quantas mais, travestis, gays, lésbicas - pobres, negras, anônimas -, precisarão ser trucidadas para que tomemos em nossas mãos a determinação de dar um basta nessa realidade?

Como é possível deixar-nos ficar a apenas contabilizar essas mortes do conforto de nossas casas, através de nossos computadores, principalmente agora, que uma nova onda de Caça às Bichas vem se instalando?
No mesmo estado em que são recolhidos são tambem depositados nos caixões - nenhuma necrópsia, geladeira, nenhum preparo.


segunda-feira, 15 de março de 2010

Tenho tentado juntar palavras, mastigar verbos, fazer rimas... tenho tentado reunir todas as forças para escrever, para conseguir expressar. Tenho tentado dizer, tenho tentado gritar. Mas eu engasgo, engasgo porque tudo o que quer sair parece sólido, maciço, não passa pela minha garganta porque cresce sem limites, preenche todo o espaço vazio, queima a Rainha de Gelo. Sinto-me limpa, aquela expressão carregada já não me representa. "E até quem me vê lendo jornal, na fila do pão, sabe que eu te encontrei." Ainda não sei definir com palavras tudo o que tenho sentido, tudo o que eu me tornei. Mas é com uma alegria imensa que venho dizer que eu quero mais. Eu quero muito e quero que seja sem fim.
 

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Mudanças, agora vai!

Faltando pouco agora pra mudança definitiva. Depois de tanto tempo esperando, finalmente terei descanso. Os preparativos são bem chatos, muitos detalhes pra se ajustar, muitas coisas pra comprar e pouco dinheiro pra gastar. Peço todos os dias que essa nova fase não seja conturbada ou que me faça perder o foco do que realmente interessa. Agora eu sei que é muito mais fácil se desviar do caminho que eu devo e preciso seguir. Ainda mais tendo um bar super bacana de baixo de casa, olha só! Mas farra mesmo é só pras férias, o tempo é curto e a vida é puxada. São esforços necessários a todos, mamãe sempre diz que não se consegue nada sem esforço. 
Fico muito feliz por saber que finalmente terei um canto sossegado só pra mim, apesar de não ser lá muito fácil morar sozinha, vou poder ter um lugar decente pra ficar com a namorada, um lugar decente pra estudar, um lugar a uma distância considerável da faculdade... Tantas melhorias que parece até pegadinha do Malandro. Pois é, né... tá tudo dando certo, tudo dando certo até demais pra mim! Isso dá um medinho, sabe? É porque depois da tempestade sempre vem a bonança ou depois da bonança sempre vem a tempestade. É, você entendeu. Haha!
De qualquer forma, acho que estou mais preparada para as próximas tempestades, depois de algumas super difíceis no último ano, aprendi que nada dura para sempre. Sempre vai aparecer uma saída, por mais dolorida que seja. Mas, também tive ótimas surpresas... uma das coisas mais importantes pra mim, que eu julgava já perdida, teve um desfecho impressionante e muito, muito desejado em todas as noites vendo filmes lésbicos melosos. Outras coisas já não tiveram desfechos tão emocionantes e romanticamente padronizados, natural que seja assim. Apesar da decepção... às vezes tudo o que você mais quer é um telefonema daqueeeela pessoa especial, um telefonema dizendo algo tipo "Oi-eu-tô-viva-como-tá-a-sua-vida-me-conta-tudo-que-a-gente-precisa-reviver-os-velhos-tempos." Mas nem tudo é perfeito e então eu tento não me importar, deve ser assim mesmo afinal...
Penso que o aprendizado é o melhor de tudo e mal posso esperar por mais essa oportunidade de aprender tanta, mas tanta coisa nova! Alguém me ensina como preparar um frango, por favor? Haha! Claro que não é só disso que tô falando, fico pensando na responsabilidade que precisarei ter agora, o que acontecer de errado vai ficar errado e eu que vou ter que consertar. A mamãe não vai poder mais pegar na minha mão e dizer que daqui a pouco isso vai passar. Claro que ela vai fazer isso, né... mas no fim das contas eu vou ter que resolver isso tudo sozinha mesmo, fui eu que escolhi assim. 
E digo a todos que pensam em morar sozinhos para pensarem dez vezes antes de fazer isso, o conforto pra andar pelado em casa e poder fazer o que quiser muitas vezes não é tão recompensador assim. Ter tantas responsabilidades pesa muito, é complicado ter que depender só de você mesmo. E afirmo com toda a certeza do mundo que não tem nada melhor do que a casa dos pais! Haha! Se eu pudesse estaria até hoje morando com a mamãe... 
Mas, agora já era e eu adoro isso! Agora sou eu e só eu. Finalmente, né?

"Temos que consertar o despertador e separar todas as ferramentas porque a mudança grande chegou, com o fogão e a geladeira e a televisão..." (8)

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Santa Base Compacta,
que nos protege de comentários indiscretos,
dos olhares maldosos
e de mães raivosas.
Amém!









*Porque as mordidas e marcas são uma delícia!*

sábado, 2 de janeiro de 2010

Eu e a Nanny, melhor amiga do mundo.


Foto do finalzinho de 2007, de quando a gente não se importava com nada e só precisávamos de um simples olhar pra sabermos tudo sobre nós.


Dói pensar que às vezes, na maioria das vezes, é necessário se afastar de quem a gente gosta. Foi com você que eu me senti pela primeira vez acolhida, foi você quem me fez perceber pela primeira vez como era ter uma companhia de verdade, ter alguém pra poder contar tudo, foi com você que pela primeira vez eu não me importei com mais nada, foi pra te abraçar e sentir o seu cheiro que muitas vezes eu consegui levantar da cama de manhã, foi com você que soube pela primeira vez como era se divertir de verdade, foi você a primeira a me ensinar tanta coisa... Hoje eu sou só saudade, saudade do tempo em que eu podia te ver todos os dias, do tempo em que eu podia te abraçar todos os dias, do tempo em que eu podia estar no seu colo sempre que precisava... Saudade de tudo, mas principalmente de te ver sorrindo. Volta logo, volta logo que preciso de você comigo...